segunda-feira, 27 de julho de 2020

EXCLUSIVO: Empresário fala sobre obra em rua do Centro: "Quis apenas engrandecer Surubim e melhorar mobilidade"


Uma intervenção realizada na rua Rosa Amélia de Miranda, no Centro de Surubim gerou críticas nas redes sociais e questionamentos na justiça, por não ser uma obra da prefeitura, mas por se tratar de um projeto de uma empresa da iniciativa privada, executado em um espaço público. 


A rua liga a avenida Paulo Afonso à rua Dr. Estácio Coimbra, duas vias bem movimentadas. A Paulo Afonso concentra a Prefeitura, quatro agências bancárias, supermercados, lojas de comércio popular e feira livre praticamente todos os dias. Na Estácio Coimbra, padarias, farmácias, supermercados, lojas e pontos de táxis.

A Rosa Amélia é mais utilizada para o tráfego de pedestres do que como artéria para veículos. Por lá o trânsito é sempre tranquilo. Aos sábados, vira um corredor de pedestres, com os bancos da feira dos dois lados da rua, de uma extremidade a outra. Durante a semana, boa parte da lateral vira 'depósito' com bancos da feira amontoados. 



INTERVENÇÃO - o Hotel e a Panificadora Cristal, que funcionam na rua Dr. Estácio Coimbra, se somarão a um terceiro empreendimento, um empresarial de seis andares, na mesma rua, separados apenas pela Maria Amélia. A empresa fez uma intervenção que elevou parte do nível da rua e substituiu o piso. A obra deixou a via aberta ao trânsito de veículos, com aspecto de calçada ligando os empreendimentos.

A intervenção foi criticada sobretudo com foco político, por adversários da prefeita Ana Célia Farias(PSB), que questionam se a obra estava autorizada pela Prefeitura, e acionaram o Município e a empresa na justiça.

Nossa reportagem conversou, com EXCLUSIVIDADE com a prefeita de Surubim Ana Célia Farias(PSB) e com o empresário João Batista, proprietário do hotel e panificadora Cristal e do empresarial. A prefeita confirma que autorizou a obra e o empresário afirmou que se sente constrangido por querer engrandecer Surubim e ser tão criticado.



AUTORIZADA - em recente entrevista ao Blog por telefone, a prefeita Ana Célia Farias(PSB) confirmou que autorizou a empresa fazer a obra e frisou que as críticas são políticas.

"A obra está autorizada pela Prefeitura e eu não tô vendo onde eu errei. A obra é praticamente só uma substituição do piso por intertravado... é porque as pessoas que criticam ainda estão na idade do paralelepípedo. João Batista só quis investir pra melhorar o local. Os que falam estão querendo fazer política antes da hora. Deveria falar que João Batista está fazendo um trabalho social com doação de milhares de pães nesta pandemia. Se todo empresário de Surubim fosse igual a ele, era outra coisa. Agora se falam da obra pra fazer política, por que os que passaram antes de mim não observaram que a construção dele vai quase até a calçada, não acham não que ele construiu quase em cima da calçada não?", disse a prefeita.



ACESSIBILIDADE - Também por telefone, o empresário João Batista conversou com nossa reportagem. e ressaltou que a obra teve como objetivo melhorar o aspecto do Centro e a acessibilidade.

"Eu pedi autorização e tenho por escrito o documento da Prefeitura. Temos um hotel e uma panificadora e estamos investindo na construção de um empresarial de seis andares, para engrandecer Surubim. O Centro está morto. A Cristal é a terceira indústria de pães do país e eu recebo inclusive convite para ir para outras cidades, mas preferimos investir aqui. Então, precisava melhorar o fluxo das pessoas, de um lado para o outro, garantir mais acessibilidade, pensando inclusive na dificuldade do cadeirante em se locomover na calçada", disse.

O empresário conta que fez a obra sem qualquer despesa para o poder público.

"Eu nunca usei nada de prefeitura, nunca incomodei prefeito. Contratei arquiteto, construtora, material, mão-de-obra... tirando o projeto do arquiteto, investi R$ 23.400 (vinte três mil e quatrocentos reais). Para construir, não baguncei, não coloquei nem metralha na rua, não usei nem uma máquina da prefeitura, a intervenção não mexeu em dinheiro público", frisa.



O empreendedor também frisou que a rua nunca teve fluxo intenso de veículos e que a obra não altera em nada a vida dos feirantes.

"Não muda nada na vida de quem tem banco ou vende ali na rua. O máximo que eu posso fazer, é pedir: 'por favor, você pode deixar um pequeno espaço entre um banco e outro, para meu cliente entrar?' É o máximo que eu posso dizer. O fluxo de veículo também não tem problema algum, não será alterado. Só a velocidade do carro será um pouco reduzida por conta da lombada, para passar na faixa de pedestre sinalizada de vermelho no piso. O pedestre terá mais segurança... então eu não fiz nada além do que uma obra para melhorar a mobilidade em Surubim", disse.

POLÍTICA - o empresário João Batista também lamentou a vinculação da obra à política partidária local.

"Eu acho que é um tiro no pé essa coisa do quanto pior melhor. A rua era mais bonita? Querem a rua esburacada para falarem mal da prefeita? É uma atitude mesquinha. Procuraram o Ministério Público, nunca me procuraram para eu falar sobre o assunto. Se o Ministério Público mandar eu desmanchar, eu obedeço. Encaminhamos todo projeto ao MP. Mas ao contrário do que dizem, não houve 'privatização' de rua, nem de nada. Investimos para melhorar o Centro. Não se apresenta nem um dado técnico para contestar a obra. Não há nada que diga que vai prejudicar o tráfego, os feirantes, nem quem passa. Honestamente, eu fico triste com tudo isso", lamenta.

Sobre a observação da prefeita de que os prefeitos que exerceram o cargo antes dela deveriam ter observado que a construção avançou além do que deveria, o empresário frisou que não fez nada ilegal.

"A calçada ali já existia assim, há muito tempo, sempre foi muito estreita. Eu não fiz nada de ilegal, posso até ter feito um investimento errado, mas ilegal não. Nessa de 'prefeitos', eu só conheci dois prefeitos de Surubim que não ficaram 'só na política': 'seu' Nelson Barbosa, que era agropecuarista, e Antônio Barros, que já era auditor fiscal, o resto não. Ana Célia sempre viveu, teve cargo público. Flávio [Nóbrega] era médico, virou político, quer ser perfeito de novo. Tulio deixou a prefeitura, foi procurar emprego em órgão público... quer dizer, parece que é um costume de Surubim. Tem até um advogado aí,  porque é candidato, sai por aí, 'metendo o sarrafo' na gente, por conta de política. Eu acho isso tudo uma coisa mesquinha", rebate.



CONSTRANGIDO - Por fim, o empresário João Batista frisou que as pessoas o cumprimentam na rua pela ação, mas que não faria a obra se soubesse que ela teria essa repercussão. Ele lembrou ainda que a ação social que faz o isenta de qualquer interesse político 

"Ali era conhecido como o 'beco da merda", depois virou 'o beco da padaria', amanhã pode ser o 'beco dos artistas', por exemplo. Nunca foi uma rua de grande fluxo. A obra não causa impacto, ao contrário, melhora a mobilidade. Fizemos o investimento porque acreditamos que estamos beneficiando Surubim. Quando passo lá, as pessoas me param e me parabenizam, eu não sei se é 'pra' me agradar, mas eu escuto muitos elogios. Nosso interesse é ajudar, como estamos doando mais de duzentos mil pães na pandemia aqui em Surubim, mas também em Santa Maria [do Cambucá], Casinhas, e em várias cidades da região. Então eu tenho interesse em que? Então, eu só queria melhorar a cidade, só não sabia que a obra iria causar esse tipo de reação, se soubesse, sinceramente, eu não teria feito. Eu fico constrangido com essa situação toda. É um desabafo que faço", finalizou.  




Fotos: albericocassiano.com.br
Da Redação, Alberico Cassiano.