sábado, 30 de setembro de 2017

Pernambuco esqueceu do centenário do filho ilustre Chacrinha


Embora a trajetória do apresentador no Recife seja muito curta, a ligação de Chacrinha com Pernambuco nunca foi cortada. Ele vinha anualmente ao estado para o carnaval e o Recife foi destino para seus shows itinerantes. Nessas ocasiões, aproveitava para travar contatos por aqui. Um dos que convivia com Abelardo Barbosa nas viagens era o jornalista Miguel Santos, ex-diretor de programas na TV Bandeirantes. “Eu o ciceroneei em vários shows, tanto nos clubes sociais quanto em praças públicas. Não tinha tanta intimidade com ele, mas vivemos vários momentos curiosos. Uma época, ele lançou um disco de carnaval e chegou a ligar às 3 da manhã para minha casa perguntando se o álbum estava sendo bem executado nas emissoras daqui. Ele era dinâmico, elétrico, um profissional muito competente, admirado por todos os artistas”.

Miguel lembra que Chacrinha sabia como agradar o público e era extremamente competitivo. “Uma vez, estávamos em um hotel e eu disse que ele era superado na audiência pelo programa do apresentador Jota Ferreira, que eu dirigia. Ele soltou um palavrão bem alto, pois não aceitava a possibilidade de alguém ter mais Ibope. Depois, também conheci o irmão dele, o produtor Jarbas Barbosa”. O ator, radialista e pesquisador fonográfico Renato Phaelante teve sua cota de convivência com Chacrinha. “Na época em que Chacrinha foi para o Rio de Janeiro, o futuro dos artistas estava no Sul, mas Pernambuco avançou bastante nesse sentido até o início dos anos 1960, época na qual o estado era o terceiro polo televisivo do país. Ele veio ao Geraldão no início dos anos 1970 e a produção era local, então passavam artistas tanto do Sul quanto locais. Eu conheci Chacrinha e ele colocou, inclusive, meu filho no colo. O povo quis entrar na minha casa e foi um tumulto, até derrubaram o muro”, recorda.

Em Pernambuco, o centenário parece passar em branco. Em Surubim, não há monumento a lembrá-lo. Foram feitas comemorações pontuais, como o tributo no carnaval e na emancipação da cidade, em 11 de setembro. O município teve, por anos, o Museu Histórico de Surubim, dirigido por Mariza Barbosa, com itens do acervo de Chacrinha, como roupas, mas foi desativado em 2002. O empresário João Batista de Souza Neto, que mantém acervo do comunicador, tinha decorado o Hotel Cristal, de sua propriedade, com fotos de Abelardo, mas teve de retirá-las após pedido da família de Chacrinha.

MAIS CHACRINHA - a proximidade do centenário fez a memória de Chacrinha ganhar ainda mais homenagens. Há cerca de dois anos, estreou Chacrinha, o musical, com roteiro de Pedro Bial e Stepan Nercessian como protagonista. A peça virá pela terceira vez ao Recife em 20 e 21 de outubro, no Teatro Guararapes.

Stepan protagonizou um filme sobre a trajetória do comunicador, com filmagens previstas para começar em outubro, e comandou o especial Chacrinha: O eterno guerreiro, exibido pelo canal Viva e pela Globo em agosto. “Ele era o antídoto da mesmice e isso ainda mexe com as pessoas de uma forma impressionante.  (...) Sempre faço a ligação de Chacrinha com Abelardo, o nordestino que veio ao Rio e venceu, com garra e disposição para o trabalho”, afirma o ator.

A Casa da Moeda lança neste sábado medalhas comemorativas, com rosto do apresentador de um lado e a imagem de um abacaxi do outro. Ele será lembrado pela escola de samba Grande Rio em 2018, que elegeu Chacrinha como tema do samba-enredo Vai para o trono ou não vai?. Leleco lamenta o governo de Pernambuco não ter apoiado financeiramente o desfile. “Ficou uma mágoa grande, pois ele sempre prestigiava Pernambuco no carnaval, mas o enredo não vai deixar de citar Recife e Surubim”.

Fonte: Diário de PE.