segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

BARRADOS EM JUCAZINHO : Primeira visita de Temer ao Nordeste tem queixa de prefeitos


A primeira visita de Michel Temer (PMDB) como presidente a uma cidade do Nordeste foi marcada por queixas e frustração. Prefeitos e vereadores de cidades vizinhas a Surubim (PE) foram barrados e não puderam acompanhar o anúncio do investimento de R$ 53 milhões para o agreste pernambucano.

O vice-prefeito de Santa Maria do Cambucá (PE), Mário Filho (PMDB), cancelou um compromisso pessoal e remarcou reuniões profissionais para acompanhar o presidente Temer. Mesmo sem convite formal, o político tentou participar do evento.

"Achei que como autoridade de um município poderia assistir à solenidade que interessa a todos os moradores da minha cidade. Queria saber sobre o investimento e para onde ele vai, mas só saberei por terceiros", disse.

Depois de receber o convite por telefone do Ministério das Cidades, Hilário Paulo (PSD), prefeito eleito de Brejo da Madre de Deus, cancelou a reunião para tratar da transição de governo e viajou 120 quilômetros até a Barragem de Jucazinho. Ele, no entanto, não passou da barreira formada por policiais militares e soldados do Exército.

"Fui convidado ontem à noite, mas não colocaram o meu nome na lista. Já participei de eventos com Lula e Dilma onde a identificação ao cerimonial era o suficiente para entrar", afirmou.

Meia hora antes do início do evento, era grande a concentração de políticos e assessores na porta da barragem. Em nenhum dos dois acessos disponíveis havia, segundo militares que faziam a segurança, rádios comunicadores para tentar a liberação. Sinal de celular também era inexistente.

Houve reclamação também por parte de moradores. A comerciante Maria Helena Miranda, 32, disse "ficar triste" por nem ela nem sua família, que há mais de 20 anos mantêm um bar na entrada da represa, não serem autorizados a assistir à cerimônia.

"Dizem que ele [Michel Temer] veio anunciar que ia consertar a barragem, que pode estourar , se encher de novo.. Seria o mínimo ele fala para nós que moramos aqui o que ele vai fazer."

Por meio de nota, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, negou que tenha havido impedimento aos prefeitos. 

"Mesmo os que chegaram atrasados ao evento foram liberados pela segurança e pelo cerimonial da presidência", resumiu o texto.

SECA - morando a menos de um quilômetro da barragem de Jucazinho, o pedreiro, Jorge Brito, 42, compra água do poço do vizinho. Para garantir o banho da família de quatro pessoas, por dez dias, ele precisa desembolsar R$ 60.

"Quando tenho esse dinheiro compro 2.000 litros de água. Quando não tem a gente se vira pedindo a um e a outro", afirmou.

A dona de casa Carmelita da Silva, 61, também recorre ao improviso. "Onde ainda aparece água só dá para aproveitar na hora, porque no outro dia ela fica vermelha e não presta nem para banheiro", disse.

Os dois moradores da região da barragem dizem ter o mesmo pedido ao presidente. "Se pudesse falar com ele pediria que nos garantisse água."

Não houve protestos durante a visita de Temer. Nas ruas de Surubim, não havia faixas ou cartazes nem a favor do presidente nem contra.

Fonte: Folha de SP.